INVESTIMENTO E APOIO EMPRESARIAIS PARA GARANTIA DA SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL 2020 – 2023

A pesquisa apresenta o mapeamento e análise das ações de investimento socioambiental e apoio de empresas dos setores de agronegócio, comércio varejista e alimentos e bebidas para a promoção da Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (SSAN) no Brasil entre 2020 e 2023.

COMO CITAR O RELATÓRIO

Investimento e apoio empresariais para garantia da soberania e segurança alimentar e nutricional no Brasil 20220-2023 [livro eletrônico] / Pietro Rodrigues … [et al.]. 1. ed. São Paulo : Fundação José Luiz Egydio Setúbal, 2025.

Apesar de os indicadores de Insegurança Alimentar e Nutricional (IAN) brasileiros apresentarem melhorias consistentes entre de 2004 e 2014, a trajetória positiva foi interrompida. Entre 2015 e 2022, mudanças nacionais e internacionais nas condições macroeconômicas e políticas agravaram tais índices, de modo que, entre 2021 e 2022, mais de 30 milhões de pessoas estiveram em situação de fome no Brasil (Rede PENSSAN, 2022).

No entanto, os índices brasileiros de SSAN têm melhorado. Se entre 2020 e 2022 a prevalência de subnutrição da população era de 4,2%, entre 2021 e 2023, ela caiu para 3,9% (FAO et al., 2023; 2024). Em âmbito nacional, o Brasil tomou medidas como a criação da Estratégia Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional nas Cidades e a recriação do Conselho Nacional Segurança Alimentar e Nutricional. Já em âmbito internacional, presidindo o G20, liderou discussões sobre SSAN e auxiliou na criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

Porém, a fome, problema crônico e multicausal, não é e nem deve ser abordada apenas pelo Estado. A filantropia empresarial, por exemplo, tem ganhado notoriedade, especialmente com a ascensão do debate sobre o Environmental, Social e Governance (ESG). O potencial de auxílio criado pelo ESG para a garantia de SSAN é alto, visto que representa doações de grande porte, bem como a criação e manutenção de ações próprias para o combate à fome. Além disso, grandes empresas envolvem diferentes partes interessadas em seus processos, podendo ter maior diversidade de ações e maior alcance.

Considerando o crescente papel da responsabilidade socioambiental empresarial e a lacuna na literatura sobre a contribuição da filantropia empresarial brasileira para a promoção da SSAN, a pesquisa delimitou a seguinte pergunta:

Como as empresas atuantes na cadeia do alimento investiram e apoiaram ações para garantir a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil entre 2020 e 2023?

681

iniciativas mapeadas

Programas, projetos, campanhas, articulações multissetoriais e suportes organizacionais.

150

empresas analisadas

50 do setor do agronegócio
50 do comércio varejista
50 de alimentos e bebidas.

98

empresas
com
iniciativa Mapeadas

metodologia da pesquisa

Quantas ações foram financiadas
ou apoiadas por cada setor empresarial?

Apesar de os indicadores de Insegurança Alimentar e Nutricional (IAN) brasileiros apresentarem melhorias consistentes entre de 2004 e 2014, a trajetória positiva foi interrompida. Entre 2015 e 2022, mudanças nacionais e internacionais nas condições macroeconômicas e políticas agravaram tais índices, de modo que, entre 2021 e 2022, mais de 30 milhões de pessoas estiveram em situação de fome no Brasil (Rede PENSSAN, 2022).

Como as iniciativas foram organizadas?

  • 472 projetos – normalmente tinham um objetivo e foco específicos, com uma duração mais curta do que
um programa, sendo mais pontuais e menos abrangentes
  • 118 programas – costumavam ser melhor-estruturados, ter maior tempo de duração e funcionar como
guarda-chuvas, abarcando diferentes projetos de uma mesma temática
  • 73 campanhas – normalmente envolviam a arrecadação e doação de alimentos em épocas festivas ou em situações emergenciais, como em casos de desastres naturais. Também envolveram campanhas de conscientização sobre alimentação saudável
  • 16 suportes organizacionais – ações que
investiam na estrutura de organizações da sociedade civil, doando de forma irrestrita, reformando seus espaços ou realizando eventos
  • 2 articulações multissetoriais – ações que faziam a ponte entre dois grupos ou mais, conectando agricultores familiares a novos consumidores, por exemplo

Quais os atores envolvidos?

  • 216 fornecedores ou cooperados
  • 211 comunidades nas quais a empresa está localizada
  • 55 clientes da empresa
  • 34 funcionários internos da empresa
  • 148 grupos em situação de vulnerabilidade econômica
  • 126 grupos demográficos com maior risco de exposição à IAN
  • 65 crianças e adolescentes
  • 34 agricultores familiares

Quais as relações das iniciativas com os benefícios do ESG?

  • Social– Iniciativas de oferecimento de local de trabalho saudável e seguro, estabelecimento de relações com a comunidade e governo, questões de direitos humanos, aumento da pressão social por melhor desempenho, transparência e responsabilidade, e prevenção de riscos reputacionais. Foram consideradas ações que beneficiavam grupos com maior probabilidade de exposição à IAN ou partes interessadas da empresa.
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  • Ambiental– Iniciativas de redução de riscos das mudanças climáticas, redução de emissões tóxicas e resíduos, regulamentações sobre responsabilidade ambiental, serviços ambientais e produtos sustentáveis, pressão social por melhor desempenho, transparência e responsabilidade, e prevenção de riscos reputacionais.
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  • Governança– Iniciativas de criação de conselhos de administração e estruturas de prestação de contas, práticas responsáveis e de divulgação de informações, criação de estrutura do comitê de auditoria e independência dos auditores, transparência nas regras de remuneração dos executivos, e gestão de questões de corrupção e suborno.
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Quais foram os principais objetivos apoiados pelas empresas?

Quais as relações das iniciativas com os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU?

Considerando os ODS 2 “Fome zero e agricultura sustentável” 
e 12 “Consumo e produção responsáveis”, os ODS que mais se destacaram foram o 2.4, o 2.1 e o 12.6. O indicador que contou com o maior número de ações relacionadas foi o 2.4, com 311 (45,67%) iniciativas. Essas iniciativas implementaram processos e práticas agroecológicas que diversificam a produção, que implementavam práticas sustentáveis e resilientes na produção, e que desenvolviam mecanismos para um melhor aproveitamento dos recursos naturais. Em seguida, o indicador 2.1 contou com 289 (42,44%) iniciativas que distribuíam alimentos ou meios para obtê-los, garantindo o acesso a qualquer tipo de alimento. O indicador 12.6 se configurou como o terceiro maior grupo de ações relacionadas, com um total de 189 (27,75%) iniciativas que incentivavam empresas, cooperados, produtores, fornecedores e outros a trabalharem de forma mais sustentáveis na cadeia do alimento.

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Quais os principais mecanismos utilizados?

Em que momento da cadeia do
alimento foram realizadas as ações?

Qual a abrangência do investimento e apoio das empresas?

Equipe

Pietro Rodrigues

Pesquisador principal

Formação: Ciência Política (USP) e Relações Internacionais (King’s College London e USP)

Áreas de interesse: Desenvolvimento internacional; Parcerias Público-Privadas; Business State Society Relations

Laura Simões Camargo

Pesquisadora

Formação: Ciências Sociais (USP e Universidade de Melbourne)

Áreas de interesse: Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; Modelos de filantropia; Inteligência Artificial e Ética

Maria Victoria Vilela

Pesquisadora

Formação: Relações Internacionais (USP)

Áreas de interesse: Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental; Cooperação Internacional

Pedro Luiz

Pesquisador

Formação: Relações Internacionais (Ibmec)

Áreas de interesse: Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional; Mudanças Climáticas e Justiça Ambiental; Direitos Humanos

Karen Rizzato

Pesquisadora

Formação: Ciência Política (USP)

Áreas de interesse: Colaborações intersetoriais, direitos humanos, primeira infância